Série A

É esse o problema que o Corinthians quase se metia envolvendo o seu estádio

Foi esse o problema que o Corinthians quase ia se metendo

Por Leandro Correira da Silva

É esse o problema que o Corinthians quase se enfiava (Foto: Corinthians)
É esse o problema que o Corinthians quase se enfiava (Foto: Corinthians)

A menos de três meses do prazo final para a implementação da biometria facial na Neo Química Arena, o Corinthians ainda não escolheu uma empresa para executar o serviço.

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O tema ganhou destaque diante da crise envolvendo o programa Fiel Torcedor, com denúncias de irregularidades, desvio de ingressos e aumento do cambismo. No entanto, o que poderia ser uma solução para os problemas também se tornou motivo de preocupação para a torcida alvinegra.

Isso porque, segundo diferentes apurações, a diretoria corinthiana estaria inclinada a contratar a Ticket Hub, contrariando a recomendação do setor de compliance do clube. Relatórios obtidos pela Central do Timão apontam uma série de riscos associados à empresa e ao seu dono, Bruno Balsimelli.

Relatório do compliance aponta alto risco na contratação da Ticket Hub

O relatório de “Due Diligence PJ”, emitido em 27 de agosto de 2024, classificou a Ticket Hub com um score de risco de 98,25 – quanto mais próximo de 100, pior a avaliação. Isso indica uma rejeição praticamente absoluta à contratação.

A empresa foi fundada há apenas quatro anos, com um capital social de R$ 100 mil, mas apresentou faturamento entre R$ 4,8 milhões e R$ 10 milhões. Seu CNAE (7990-2/00) está vinculado a serviços de reservas e turismo, e não há débitos fiscais ou restrições em cadastros oficiais.

Apesar disso, a análise apontou preocupação com seu controlador, Bruno Balsimelli, que é parte passiva em diversos processos judiciais e tem um histórico controverso na indústria de ingressos para eventos esportivos.

Bruno Balsimelli: pendências judiciais e polêmicas no setor

O relatório específico sobre Balsimelli também trouxe uma avaliação negativa, atribuindo-lhe um score de 86. O empresário possui participação em 16 empresas, sendo nove ativas, e acumulou uma dívida tributária de R$ 2,3 milhões.

Além disso, ele responde a 23 processos judiciais, totalizando R$ 50,8 milhões. Desses, 16 são de natureza cível/administrativa, seis são criminais e um é trabalhista. Há ainda oito processos trabalhistas diretamente ligados ao seu CPF, somando R$ 244 mil.

Outro ponto de alerta é que algumas das empresas de Balsimelli possuem CNAEs secundários frequentemente associados a investigações de lavagem de dinheiro, além de uma delas apresentar situação irregular no Sintegra.

Histórico da BWA e escândalos no mercado de ingressos

A família Balsimelli atua no setor de ingressos desde 1987, por meio da BWA. A empresa gerenciou a venda de ingressos e catracas para a Federação Paulista de Futebol entre 1998 e 2000, mas acumulou críticas pela baixa qualidade do serviço.

A Ingresso Fácil, uma das empresas do grupo, foi alvo de investigações do Ministério Público por problemas como filas e escassez de pontos de venda. Em 2008, um escândalo no Coritiba resultou na prisão de seis pessoas por duplicação de ingressos usando equipamentos da BWA.

O Palmeiras rompeu contrato com a BWA no mesmo ano, citando falhas na operação. Já em 2009, a Polícia Civil do Rio de Janeiro apreendeu oito mil ingressos falsos em um jogo do Flamengo, na operação "Gol de Mão". Na época, Balsimelli reconheceu a possibilidade de irregularidades dentro da empresa.

O Corinthians também enfrentou problemas com a BWA na final do Paulistão de 2009, quando cerca de cinco mil ingressos falsos foram vendidos. A empresa alegou que o número era menor e que os bilhetes falsos não foram comercializados em seus pontos oficiais.

Ticket Hub enfrenta resistência dentro do próprio Corinthians

Além do parecer negativo do compliance, a Ticket Hub também recebeu fortes críticas de Marcelo Munhoes, ex-chefe de TI do Corinthians. Em entrevista ao ge.globo, ele destacou diversos problemas na empresa, incluindo:

A Ticket Hub trabalha em conjunto com duas empresas menores, NewC e BePass, sendo que a BePass já enfrentou falhas na tecnologia de reconhecimento facial em outros clubes.

Possível conflito de interesse na base do Corinthians

Outro fator que pode dificultar a contratação da Ticket Hub é a ligação de Balsimelli com as categorias de base do clube. Uma de suas empresas, a Unique Sports & Marketing, atua no agenciamento de atletas. Um de seus jogadores, Luiz Eduardo, de 17 anos, está atualmente no Corinthians, após transferência do Água Santa.

Essa conexão pode configurar um possível conflito de interesse, já que Balsimelli atuaria simultaneamente como fornecedor de tecnologia e agente de jogadores do clube.

Corinthians nega negociação, mas evidências indicam o contrário

Em meio ao anúncio da “Operação Ingresso Legal”, iniciativa do clube para combater o cambismo, o Corinthians negou estar negociando com a BWA. No entanto, documentos e apurações indicam que a diretoria segue interessada na Ticket Hub.

Com o prazo para a biometria facial se aproximando, o Corinthians precisa definir rapidamente a empresa responsável pelo serviço. A escolha, no entanto, pode trazer ainda mais turbulência para a gestão alvinegra, que já enfrenta desafios internos e desconfiança da torcida.

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